terça-feira, 22 de abril de 2014

O abraço

O sol ainda não havia enviado nenhum feixe de luz, e mesmo assim a campainha insistia em tocar. Com os olhos quase fechados abri a porta e, do outro lado, recebi um sorriso enorme, seguido de um abraço.
Aquele abraço imediatamente me transmitiu uma sensação de conforto. Era como se, naquele instante, toda a confusão da minha vida não existisse mais.
Ter que acordar cedo pra fazer exercício, correr pra não chegar atrasada ao trabalho, trabalhar com o mesmo entusiasmo do primeiro dia, cuidar muito bem dos gatos e da casa, e ter mais tempo para o meu marido.
A vida em minhas mãos, como eu queria...
Mas naquele momento toda a angustia da minha rotina desapareceu. Era somente o conforto daquele abraço.
Ele durou não mais que alguns segundos, mas a paz invadiu o meu corpo. Logo em seguida ouvi:
- Vou colocar minhas malas aqui no canto e descansar um pouco. Vá dormir novamente, nos falamos no café da manhã.
Não lembro se respondi alguma coisa, mas segui para o meu quarto e deitei.
Algumas horas depois o despertador tocou. Rapidamente meu marido ativou a soneca. O despertador tocou novamente e foi desligado. Não me mexi. O sono estava tão bom, o corpo estava leve, tudo tão tranquilo.
Fazendo carinho na minha cabeça, meu marido tentava me acordar.
- Não tem mais soneca, amor. Acorde...
Como de costume, sentei na cama e comecei a pensar sobre o meu dia. Lembrei-me do sonho, do abraço.
Como poderia um gesto singelo, realizado em apenas alguns segundos, fazer tudo parecer mais fácil e tranquilo? Como pode somente uma pessoa, um simples ser humano, ter esse "poder de paz" sobre outra?
Mas aquele jamais seria um abraço qualquer, dado por uma simples pessoa. Só uma pessoa poderia fazer isso comigo.
A porta do quarto se abriu, ela entrou e disse:
- Filha, vem tomar café.
Não foi um sonho.
Hoje acordei com o abraço da minha mãe.

instagram.com/mariliacruz


Este texto é melhor entendido por aqueles que não moram na mesma cidade da sua mãe. E por aqueles que moram na mesma cidade, mas mesmo assim sentem uma saudade enorme da mãe. E serve também para aquelas mães que acham que o filho já se acostumou com a distância e que por isso não sente mais saudade. Tolinhas....



Marília Cruz é filha do meio e gosta de falar que é a preferida. É pisciana com ascendente em escorpião, mas não sabe ao certo o que significa. Já cruzou a barreira dos 30 e isso faz com que se pergunte coisas com algum significado, ou não. Casada, produtora de TV, da Família e dos Amigos. É também dona de casa, mãe de dois gatos - Chico e Phoebe -, e tenta todos os dias dar conta de ser a mulher que deseja ser.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Inhotim

http://www.facebook.com/fotosdeflavio
Invenção da cor, Penetrável Magic Square #5 de Hélio Oiticica  |  foto: Flavio Emanuel

Imagine um lugar pensado para se apreciar a arte contemporânea com toda a beleza da natureza ao redor. Isto é Inhotim, um lugar incrível.
Sempre ouvi que para conhecer este Centro de Arte “um final de semana qualquer” seria suficiente.  Este ano resolvi dedicar todo o feriado do carnaval para essa viagem. A experiência foi maravilhosa e passou muito longe de ser apenas um final de semana “qualquer”.

http://www.facebook.com/fotosdeflavio
Galeria Adriana Varejão  |   foto: Flavio Emanuel


Sendo assim, minha primeira dica é: se você gosta de arte, parques e natureza, passe mais que um final de semana. Para pessoas assim como eu, recomendo que o passeio seja feito em três dias.

Mas três dias não é muito? Não, se você for fazer o passeio a pé (recomendação do próprio site deles, inclusive), assistir com calma aos vídeos nas galerias, sentar na grama para admirar os jardins planejados (que contaram com a colaboração de Burle Marx), visitar as galerias com calma, e comer sem pressa. 
Até que dá pra ver em dois dias, mas aí você teria que correr. Ou seja, chegar na hora que abre e sair no último minuto, e acho até que seria necessário alugar (por R$ 20,00) uma vaga nos carrinhos elétricos que levam de uma galeria à outra. Pense nisso...
Mas, independente do número de dias que tenha para ir lá, é garantido um passeio maravilhoso.
Você pode comprar o ticket combo para entrada. Eles vendem para 02, 03 e 05 dias de visitação. Comprei o combo para 02 dias para mim e meu marido, pagando meia e custou R$ 48,00. O terceiro dia foi gratuito, já que em todas as terças-feiras a entrada é livre. ;)

Na recepção vão te entregar o mapa do local. Guarde! Você vai recorrer a ele o tempo todo. Lembre-se: a área de visitação é enorme, com mais de 90 hectares entre jardins, galerias, lagos, edificações, tudo rodeado pela Mata Atlântica! 
Vamos então para a segunda dica: você pode passear livremente pelo Centro, mas é provável que acabe passando por alguns lugares mais de uma vez. Vendo o mapa, você vai perceber que pode dividir a sua visita em trilha da esquerda e da direita. E aí vai seguindo o caminho, conhecendo uma galeria após a outra. 
No final, terá fechado o círculo que forma o Centro de Arte Inhotim. ;)
Como me perco facilmente, dividi o espaço para fazer o círculo e ainda fui marcando no mapa com um x as galerias e obras que já tinha visto. Em minha defesa, digo: o lugar é enooorme, com muuuitas galerias e obras. Dá pra se perder em algum momento. Rsrs.




Minhas Galerias, Instalações e Obras Preferidas

(não necessariamente nesta ordem...)


By Means of a Sudden Intuitive Realization” por Olafur Eliasson [19]

É o que se pode chamar de uma obra inusitada. Não estava à procura dela quando me deparei com o Iglu branco no meio do mato. E ao entrar tive uma boa sensação de frescor misturada a um estranhamento ótico. 
O iglu possui uma fonte de água iluminada por luz estroboscópica. A sensação que se tem é que a cada piscar de olhos você terá formado uma nova escultura de vidro. Bem legal. ;)
Pessoas que sofrem de claustrofobia e epilepsia não podem entrar....

“Galeria Miguel Rio Branco” por Miguel Rio Branco [M]

Se você curte fotografia, esta galeria é obrigatória. São 30 anos de registros do Pelourinho (BA) feitos por Miguel Rio Branco. Ele é um dos grandes nomes da fotografia nacional. As fotos e vídeos se espalham pelos dois andares da galeria, além de obras interativas. Gaste um tempo lá. 


“Beam Drop” por Chris Burden [7]

É um pouco difícil falar sobre esta obra, porque ao mesmo tempo em que visualmente é simples, houve uma complexidade na forma que foi concebida. Então pode ser que você se encante ou que ache uma grande bobagem de aço (como ouvi uma pessoa lá falando). De forma objetiva: são 71 vigas de construção que foram jogadas por guindaste, formando uma grande escultura. Eu achei incrível!


Galeria Cosmococa [H]

É para gastar um tempo lá. Considerei a galeria mais divertida e mais palpável. Sem dúvida foi onde vi mais crianças empolgadas brincando. A galeria possui vários espaços/salas com redes outros com colchões passando vídeos e músicas. É legal pra brincar, ver os vídeos, descansar e ouvir música. Tudo junto de forma bem despretensiosa. 

(Ótimas experiências sonoras!)


“Sonic Pavilion” por Doug Aitken [O]

Lembro bem que quando criança encostava o ouvido no chão para tentar ouvir o som da terra. Fiz isso algumas vezes. Aqui você não precisa deitar no chão. Pelo contrário, de forma bem confortável e com uma linda visão panorâmica das montanhas ao redor de Inhotim irá ouvir o som que vem do centro terra. Esta é a proposta do “Sonic Pavilion”, que conta com um cano enterrado a centenas de metros dentro da terra, captando os sons desta através de vários microfones geológicos. Sente, aprecie a vista e respire junto com a terra.

Eu gostei muitíssimo da Instalação Sonora [A] da artista canadense Janet Cardiff. Foi uma mistura de calma com arrepio e que resultou numa intensa paz interior. A sala possui várias caixas de som que parecem soltar individualmente cada voz do coro da catedral britânica de Salisbury “Spem in Alium” – cantando a peça polifônica medieval de Thomas Tallis. As vozes são tão diferentes e ao mesmo tempo lindamente harmoniosas. Mesmo que você se desloque dentro da sala, a bela harmonia irá continuar. É realmente encantadora a perfeição sonora dessa instalação. Ouça por inteiro, uma, duas, três vezes...

Galpão Cardiff [F]

Penso que a instalação que falei acima deve ter feito um sucesso tão grande que a Cardiff ganhou uma galeria pra chamar de sua. ;)
No seu galpão, a Cardiff se uniu ao artista George Bures Miller para contar um sonho – “The Murder of Crows”. 
A história do sonho é um pouco esquisita (tem um planfleto na entrada da galeria contando tudo), mas você pode se deixar levar apenas pela experiência sonora proporcionada pela alta tecnologia por trás desta obra que conta com 98 caixas de som.
Sente para ouvir o sonho todo, do inicio até o final.
Se dividir o mapa, como falei lá em cima, você vai visitar esta Galeria após já ter ouvido o coro na instalação da Cardiff. Primeiro o coro, e depois os corvos. Acho essa uma boa ordem. ;)

Dá pra falar de outros espaços e galerias bem legais também, como a Adriana Varejão, Hélio Oiticica, Tunga, Cildo Meireles... É difícil não achar tudo lá maravilhoso. Mas eu tentei listar as que mais me impactaram mesmo. Preferi não colocar fotos das galerias e obras que falei porque acho que já fui muito descritiva. rsrs E também porque não gosto de tirar fotos das obras e tal... 
O post já está enorme e eu não falei da hospedagem ainda!



Onde fiquei?

No site de Inhotim eles indicam várias pousadas em Brumadinho (MG). Fiz uma pesquisa na internet e liguei para algumas. Como fui no período do carnaval, todas estavam fechando pacotes de 04 ou 05 dias. 
A minha primeira escolha foi a Pousada Vista da Serra. Fiquei encantada com as fotos do site e com a ideia de ficar num quarto com jacuzi na varanda. Mas o atendimento por telefone não foi bom e não quis arriscar um investimento financeiro maior... 
A minha segunda opção foi a Nova Estância Pousada Inn. Após ter ficado lá, recomendo muito a hospedagem. Os quartos são bem charmosos e aconchegantes, todos com ar condicionado, e o chuveiro é aquecido com energia solar. 



Já ao ligar para pousada, para pegar informações, fui muito bem atendida pela Carla, que me explicou absolutamente todos os caminhos até a pousada, Inhotim e também Brumadinho. Todos os funcionários lá são extremamente educados e solícitos. Ou seja, o serviço é excelente!
Agora, a grande surpresa: o restaurante é MARAVILHOSO! Confesso que não dei muito importância quando a Carla me falou do restaurante pelo telefone. Mas já na primeira noite fui surpreendida pela comida deliciosa. 
Tenho pra mim que qualquer prato do cardápio é bom! Vou listar os meus preferidos (nesta ordem): Salmão grelhado na manteiga, Carré Suíno, Linguado Espanhol e o Risoto de Costelinha. Os pratos são individuais e todos são deliciosos!!
Para sobremesa, recomendo que você peça todos os dias “O Cacau”. Rsrs. O prato vem com brownie de chocolate amargo, trufa de chocolate com Jack Daniels e mousse de Nutella. É muito chocolate bom num único prato! Sobremesa Perfeita! Qualquer sobremesa serve muito bem duas pessoas. E quem está falando é uma pessoa que não gosta de dividir doce!
Também comi as sobremesas Banana flambada, Caminho da roça e Cheesecake. São todas muito boas, mas, pra mim, “O Cacau” é imbatível.
Fiquei muito feliz com a pousada. Estava com medo de não dar certo porque fui sem recomendação. Mas saí de lá realmente encantada.

O que vestir?

Vou dar uma dica de vestuário porque, apesar de não ter me atrapalhado, achei que escolhi o calçado errado para o passeio.

Fui dois dias de rasteirinha. Eu sabia que iria caminhar bastante e por isso levei uma sandália bem confortável, com leve acolchoado no solado. No primeiro dia foi ótimo, mas no segundo dia choveu um pouco e vários caminhos são de terra batida ou cascalho. Não cheguei a sujar os pés, mas tive que ficar “pisando em ovos”. No terceiro dia fui de dockside de tecido, também acolchoado. Achei bem melhor porque fiquei mais tranquila.





Então minha dica é que você use o seu calçado mais confortável, de preferência fechado, ou que dê uma certa proteção aos pés. Então tênis, sapatilhas, dockside ou mocassim são as melhores opções.
Para vestir use o mesmo conceito, a roupa mais confortável possível. Você vai andar bastante, vai querer sentar na grama, nos bancos. Eu usei vestidinhos bem leves nos dois primeiros dias e uma jardineira no terceiro. Estava bem quente quando fui e achei que escolhi bem as roupas. 
Se der, leve na bolsa uma canga pequena. Você vai querer usar para sentar/deitar na grama.

Onde comer?

Inhotim possui três restaurantes. 
O Tamboril é um restaurante sofisticado e fica no meio do parque. Em seu cardápio, oferece pratos da culinária internacional e uma grande oferta de sobremesas. É bem grande, com salão principal e varandas integradas ao jardim planejado de Burle Marx. Você pode pagar o bufê por pessoa (R$ 63,00, se não me engano) ou pedir à la carte.
Oiticica é um restaurante mais simples e fica perto da entrada ao lado da Galeria Lago. Lá o bufê é por quilo, com muita variedade de saladas, pratos quentes e sobremesas. 
Ao lado do Tamboril fica o Bar do Ganso, que também é restaurante, mas bem mais intimista. É uma boa opção para fugir do barulho. O menu é reduzido e o espaço só acomoda 50 pessoas. Fui lá pra tomar um café e gostei do ambiente.
Além dos restaurantes, você vai encontrar durante todo o percurso as lanchonetes. Elas oferecem boas opções de salgados, sanduiches, e algumas servem pizza e cachorro quente. 
Bom, acho que é isso. Fui com uma grande expectativa e fiquei muito feliz que ela foi correspondida. Sem dúvida posso falar que amei essa viagem. Talvez, por isso, tenha escrito este post com tanta empolgação!
Espero que você vá logo a Inhotim e aproveite tanto quanto eu.




Beijos, Marília.



Marília Cruz é filha do meio e gosta de falar que é a preferida. É pisciana com ascendente em escorpião, mas não sabe ao certo o que significa. Já cruzou a barreira dos 30 e isso faz com que se pergunte coisas com algum significado, ou não. Casada, produtora de TV, da Família e dos Amigos. É também dona de casa, mãe de dois gatos - Chico e Phoebe -, e tenta todos os dias dar conta de ser a mulher que deseja ser.